O choro de um médico
Em 519 a.C, apesar de não ser o primogênito, Xerxes herdou do seu pai Dario, o reino persa. E durante vários anos, desencadeou, contra os povos gregos, para ver quem tomava conta da Jônia, na Ásia menor, uma guerra denominada de GUERRAS MÉDICAS. E um belo dia, chegando ao centro de Abidos, Xerxes quis ver a totalidade de seu exército e viu todo o Helesponto coberto por suas naus e toda a orla marítima e a planície coberta por seus soldados. A principio, Xerxes ficou feliz e congratulou-se consigo mesmo, para, logo em seguida - e, inexplicavelmente, para os que estavam em sua volta-, chorar copiosamente.
Questionado sobre a ambigüidade de seus sentimentos, Xerxes respondeu: “Quando comecei a meditar sobre a brevidade de toda a vida humana senti uma grande compaixão, pois, sendo aqueles homens tão numerosos, nenhum deles estará vivo dentro de cem anos".
Hoje é sábado. Pretendia acordar um pouco mais tarde, mas o barulho ensurdecedor dos carros de sons, dos nossos dois maiores pretendentes ao governo deste estado, não deixou... - “É a melhor”, ou ainda: Ele precisa voltar!”, não param de “tocar”, sendo impossível não ouvi-los. Assim, tive que levantar. E a disputa continuava: “Tá fazendo e tá melhor!”; “Volta fulano, volta...”.
Então, diante disso, foi impossível não lembrar de Xerxes. E por isso, eu chorei... chorei por ver que toda essa disputa, esse embate, essa igualdade de voto a voto... tudo muito parecido – que essa busca desenfreada pelo poder não impedirá que, daqui a cem anos, esses dois fortes – fortíssimos, até-, candidatos estejam mortos... é a condição humana.
Mas, existiria uma forma de eles se imortalizarem. De eles nunca mais serem esquecidos. De eles ficarem para sempre na memória dos homens. Não! Não estou sugerindo que eles se candidatem a Academia Norte Riograndense de Letras. Nem muito menos que eles passem a escrever livros, terem filhos e plantarem árvores, pois isso nunca imortalizou ninguém. Conheço uma pessoa especial, muito especial, a mais especial que passou nesta terra, que só fez uma única coisa: plantar uma semente de quatro letras no nosso coração. Plantou a semente do amor. E disse Cristo a frase mais sábia até hoje dita: “Amai o próximo como a ti mesmo!”.
Então, eu continuo chorando... chorando por ver esses homens tão “poderosos”, mas também tão insensíveis. Tão aguerridos pela luta do voto a voto, mas tão “cegos”. Cegos que não vêem que a verdadeira luta que eles deveriam lutar, o bom combate que eles deveriam travar, deveria ser para melhorar a vida do seu próximo.
No dia primeiro de setembro de 2006, o jornalista Alex Medeiros, publicou um artigo no Jornal de Hoje, cujo título “Nossa porção Auschwitz” revela que seres humanos, gente humilde, estão sendo amputados no Hospital Walfredo Gurgel (HWG), de graça – por não terem um sistema de saúde, com o mínimo de eficiência (postos de pronto atendimento, bem equipados, fazendo o controle do diabetes destes doentes; com profissionais bem remunerados e felizes por terem a oportunidade de ajudar ao seu próximo). “Essa incompetência dos que gerenciam o SUS no Brasil”, diz Alex Medeiros, “É semelhante aos sentimentos assassinos do Adolfo”.
Mas... os carros de sons continuam a tocar suas marchinhas, seus jingles, suas preferências... A disputa promete ser emocionante: voto a voto. Parece até uma final de copa do mundo. No entanto, continuo lembrando de Xerxes. E por isso, continuo chorando. Choro por saber que, após primeiro de outubro – ganhe quem ganhar-, a sabedoria eclesiástica continuará com a sua verdade cruel: “Nada de novo debaixo do sol!”. Ah! Só, somente, os carros de sons estarão definitivamente mudos...
Os pacientes do HWG, continuarão – mesmo com toda a competência da atual direção e que faço questão, aqui, de destacar, não ter nenhum deles, nenhum dos atuais diretores, culpa por todo esse caos-, a se amontoarem nos mais frios e gélidos corredores, nas mais sombrias macas, estando bem longe dali a dignidade humana...Mudar isso, mudar essa realidade, que nos envergonha e nos diminui como seres humanos é que deveria ser o verdadeiro e real objetivo, de tanta obstinação pelo poder. E o poder que não tem o poder de mudar essa realidade, só deve ter de nós um profundo desprezo.
Portanto, eu choro, choro por saber que, por tão pouco, poderíamos ver um HWG humano. Demasiado e belamente humano. Cheio de humanidade. Repleto de sentimentos de afeição e carinho. Transbordando de amor.
Francisco Edílson Leite Pinto Junior - Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN
Em 519 a.C, apesar de não ser o primogênito, Xerxes herdou do seu pai Dario, o reino persa. E durante vários anos, desencadeou, contra os povos gregos, para ver quem tomava conta da Jônia, na Ásia menor, uma guerra denominada de GUERRAS MÉDICAS. E um belo dia, chegando ao centro de Abidos, Xerxes quis ver a totalidade de seu exército e viu todo o Helesponto coberto por suas naus e toda a orla marítima e a planície coberta por seus soldados. A principio, Xerxes ficou feliz e congratulou-se consigo mesmo, para, logo em seguida - e, inexplicavelmente, para os que estavam em sua volta-, chorar copiosamente.
Questionado sobre a ambigüidade de seus sentimentos, Xerxes respondeu: “Quando comecei a meditar sobre a brevidade de toda a vida humana senti uma grande compaixão, pois, sendo aqueles homens tão numerosos, nenhum deles estará vivo dentro de cem anos".
Hoje é sábado. Pretendia acordar um pouco mais tarde, mas o barulho ensurdecedor dos carros de sons, dos nossos dois maiores pretendentes ao governo deste estado, não deixou... - “É a melhor”, ou ainda: Ele precisa voltar!”, não param de “tocar”, sendo impossível não ouvi-los. Assim, tive que levantar. E a disputa continuava: “Tá fazendo e tá melhor!”; “Volta fulano, volta...”.
Então, diante disso, foi impossível não lembrar de Xerxes. E por isso, eu chorei... chorei por ver que toda essa disputa, esse embate, essa igualdade de voto a voto... tudo muito parecido – que essa busca desenfreada pelo poder não impedirá que, daqui a cem anos, esses dois fortes – fortíssimos, até-, candidatos estejam mortos... é a condição humana.
Mas, existiria uma forma de eles se imortalizarem. De eles nunca mais serem esquecidos. De eles ficarem para sempre na memória dos homens. Não! Não estou sugerindo que eles se candidatem a Academia Norte Riograndense de Letras. Nem muito menos que eles passem a escrever livros, terem filhos e plantarem árvores, pois isso nunca imortalizou ninguém. Conheço uma pessoa especial, muito especial, a mais especial que passou nesta terra, que só fez uma única coisa: plantar uma semente de quatro letras no nosso coração. Plantou a semente do amor. E disse Cristo a frase mais sábia até hoje dita: “Amai o próximo como a ti mesmo!”.
Então, eu continuo chorando... chorando por ver esses homens tão “poderosos”, mas também tão insensíveis. Tão aguerridos pela luta do voto a voto, mas tão “cegos”. Cegos que não vêem que a verdadeira luta que eles deveriam lutar, o bom combate que eles deveriam travar, deveria ser para melhorar a vida do seu próximo.
No dia primeiro de setembro de 2006, o jornalista Alex Medeiros, publicou um artigo no Jornal de Hoje, cujo título “Nossa porção Auschwitz” revela que seres humanos, gente humilde, estão sendo amputados no Hospital Walfredo Gurgel (HWG), de graça – por não terem um sistema de saúde, com o mínimo de eficiência (postos de pronto atendimento, bem equipados, fazendo o controle do diabetes destes doentes; com profissionais bem remunerados e felizes por terem a oportunidade de ajudar ao seu próximo). “Essa incompetência dos que gerenciam o SUS no Brasil”, diz Alex Medeiros, “É semelhante aos sentimentos assassinos do Adolfo”.
Mas... os carros de sons continuam a tocar suas marchinhas, seus jingles, suas preferências... A disputa promete ser emocionante: voto a voto. Parece até uma final de copa do mundo. No entanto, continuo lembrando de Xerxes. E por isso, continuo chorando. Choro por saber que, após primeiro de outubro – ganhe quem ganhar-, a sabedoria eclesiástica continuará com a sua verdade cruel: “Nada de novo debaixo do sol!”. Ah! Só, somente, os carros de sons estarão definitivamente mudos...
Os pacientes do HWG, continuarão – mesmo com toda a competência da atual direção e que faço questão, aqui, de destacar, não ter nenhum deles, nenhum dos atuais diretores, culpa por todo esse caos-, a se amontoarem nos mais frios e gélidos corredores, nas mais sombrias macas, estando bem longe dali a dignidade humana...Mudar isso, mudar essa realidade, que nos envergonha e nos diminui como seres humanos é que deveria ser o verdadeiro e real objetivo, de tanta obstinação pelo poder. E o poder que não tem o poder de mudar essa realidade, só deve ter de nós um profundo desprezo.
Portanto, eu choro, choro por saber que, por tão pouco, poderíamos ver um HWG humano. Demasiado e belamente humano. Cheio de humanidade. Repleto de sentimentos de afeição e carinho. Transbordando de amor.
Francisco Edílson Leite Pinto Junior - Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN
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