O centralismo patológico "A finalidade de ter poder é ter habilidade para delegá-lo" (Aneurin Bevan, político trabalhista britânico no século passado)
O governo da professora Wilma de Faria (PSB) está em seus estertores. Agoniza. Não obstante ter o que mostrar e se dirigir para uma campanha eleitoral que em breve ganhará as ruas, a governadora sofre com desgastes produzidos ao longo de quase três anos e meio de gestão. É certo que o poder desgasta, mas em dose cavalar isso se reflete na política eleitoral. Wilma de Faria enfrentará na disputa sucessória não apenas um adversário forte, o senador Garibaldi Filho (PMDB). Observe-se que ele é imbatível em concorrências pela via do voto há 36 anos. O principal obstáculo para a governadora é o povo. Sua campanha é particularmente plebiscitária. O sim e o não popular estão subliminarmente postos no julgamento de seu governo, iniciado em 1º de janeiro de 2003. Não é Garibaldi Filho que Wilma reencontrará nas ruas, praças, avenidas, comunidades rurais, planície e altiplanos do Rio Grande do Norte. A governadora vai se deparar novamente com o povo. Sim, ele, que muitas vezes tem seu sagrado nome mencionado em vão, mas que desfruta muito pouco dos bens da terra potiguar. A governadora está fechando seu último ano de governo, em meio à montagem de chapas e alianças, em clara desvantagem em relação aos adversários. E não cola o discurso de vítima ou se argüir que vivenciou um tempo de vicissitudes impostas pela natureza. Wilma de Faria não enfrentou estiagens abrasadoras e muito menos invernos caudalosos. De quebra, ainda contou com maioria na Assembléia Legislativa e o governo federal como aliado. O que então teria comprometido tanto o governo? Talvez, em parte, essa dificuldade de hoje seja resultado de um centralismo patológico da governadora. Enquanto o mundo marcha no sentido da gestão à base de organogramas sob vasos comunicantes, ela insistiu em administrar como se continuasse reinando na terra dos xarias e canguleiros, habitantes das partes alta e baixa da capital. O "empowerment", esquema de gerenciamento que destina tarefas e cobra resultados às escalas hierárquicas não é qualquer novidade no mundo corporativo e setor público. Porém no RN se retirou de algum baú empoeirado e com forte odor de naftalina, a crença de que o Estado dinâmico e progressista faz justamente o contrário. Pesa a mão centralizadora de Wilma. É, mas mesmo assim, ela foi incapaz de enxergar as piruetas de salão da turma do "folioduto". Temos um governo emperrado por uma cansativa rotina burocracial, que impede um chefe de repartição no interior de repor papel higiênico ao banheiro. A comunhão da inflexibilidade administrativa com a lerdeza ante às demandas do cidadão conspira contra o governo e compromete a reeleição de Wilma de Faria. A partir daí é possível que fique mais fácil entender o porquê de suas consideráveis dificuldades para renovar o ocupação da governadoria por mais quatro ano.
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SUBMUNDO – O ex-deputado federal e atual secretário estadual da Agricultura, Laíre Rosado (PSB), foi inserido na página policial da edição de quinta, 25, do Correio da Tarde, diário que tem como um dos sócios o ex-reitor da Uern Walter Fonseca. Citado em investigação preliminar da Polícia Federal como envolvido no escândalo dos "sanguessugas", Laíre – que já apresentou defesa à denúncia - apareceu dividindo espaço com "Maria Cambista", acusada de receptação de produtos roubados. Foram duros com o ex-deputado. TUCANO - A Polícia Rodoviária Federal no RN está em ebulição. A nomeação do inspetor Domingos para chefiar essa autarquia no Estado está tendo oposição interna muito forte. O comentário corrente é de que Domingos é resultado de uma influência cearense do governador tucano Lúcio Alcântara, respingando na PRF do RN. Os petistas estão raivosos com essa situação estranha. CHAPÃO – Uma virtual fixação do ex-senador Geraldo Melo (PSDB) na chapa à Câmara Federal da Unidade Popular pode dar uma mexida no chapão que capciosamente a elite política do RN monta, oposição-situação, para evitar novidades e surpresas. A fórmula "fora de estrada, 4 x 4", com cada lado elegendo a metade da representação, talvez não vingue. CHAPÃO II – Se a Unidade Popular conseguir chapa majoritária com Garibaldi Filho (PMDB) a governador, Robinson Faria (PMN) a vice e Rosalba Ciarlini (PFL) a senador, um hipotético arrastão pode provocar erosão de votos na chapa federal governista, migrando esses votos em sentido contrário. Daí, não ser improvável que a oposição possa fazer um 5 x 3 ou mesmo o surpreendente 6 x 2. A segunda hipótese é muito pouco provável, mas não impossível. Depois voltaremos ao tema. MÁQUINA – A Federação das Câmaras do RN (FECAM), que temporariamente está sendo presidida pelo presidente da Câmara de Mossoró, Júnior Escóssia (PFL), está cumprindo papel idêntico ao que fora desenvolvido pela Femurn (Federação dos Municípios do RN) no passado. Antecedendo às eleições de 2002, a Femurn alimentou a postulação de Wilma de Faria (PSB), que terminou eleita governadora. Agora, a Fecam é fermentada para a reeleição. FECAM – A entidade tem sido importante ainda para alimentar a pré-candidatura a deputado federal do vereador natalense Rogério Marinho (PSB), candidato preferencial à Câmara Federal da governadora Wilma. A programação da Fecam está pulverizando a imagem de Marinho pelo Estado e levando à tiracolo a de Wilma.
LIDERANÇA – Eleito como a governadora Wilma de Faria em 2002, o governador Aécio Neves (PSDB) de Minas Gerais chega para tentar a reeleição numa posição diametralmente oposta à colega de poder. Conta com 72% de intenções de voto. O adversário mais próximo não passa dos 8%. Aécio teve a coragem de desafiar velhos costumes, promovendo uma reforma de Estado. Wilma preferiu repetir práticas comuns àqueles que ela dizia combater, os tais "caciques".
ONDA – O PV de Micarla de Sousa não deverá perder o bonde da história que está se formando. Brigada com o prefeito natalense Carlos Eduardo (PSB), de quem é vice, Micarla conversa e se afina com a Unidade Popular. Ninguém ignore sua força emergente. Tem política nas artérias e veias, do falecido senador Carlos Alberto de Sousa. GERAIS - O Ministério Público de Mossoró/RN promove seminário sobre Direito Civil hoje e amanhã durante todo o dia, no auditório da Faculdade de Medicina. - A saída da empresa BRA de vôos regulares em Mossoró não se deve à razão, justa, da falta de segurança no aeroporto local. Fonte da companhia comenta que o mercado local não estava respondendo à expectativa. - É delirante o anúncio da Prefeitura de Mossoró de movimento de 1,5 milhão de pessoas durante o Cidade Junina. Sem aeroporto, com estradas de acesso sofríveis e nada de via fluvial, só mesmo a propaganda é capaz de reproduzir algo tão descabido. - No Alto da Pelonha (área urbana de Mossoró), os moradores estão sem serviços básicos como o simples recebimento de correspondências pelos Correios. E ainda falamos de desenvolvimento, com tamanho primitivismo. – O casal Tácio Garcia-Fátima, da Gondim & Garcia, com esforço sobre-humano está iniciando a descentralização do seu Palácio do Forró. A obra a passo lento, mas continuado, está ocorrendo à saída para Tibau, BR-304, pertinho de onde já existe o temático Rancho do Forró. - No próximo dia 9 de junho, a Prefeitura mossoroense promoverá mais um casamento coletivo. Dará condições à oficialização de uniões estáveis entre casais de baixa renda. SÓ PRA CONTRARIAR O verbo trair já pode ser conjugado na terceira pessoa do plural, presente do indicativo, na política do RN: "Nós traímos". Acabou o monopólio da perfídia.
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