terça-feira, maio 09, 2006

COLUNA DO HERZOG

Na república do óbvio "lulante"

Olhos críticos, despidos de um natural sectarismo ou acanhado partidarismo, não podem se desviar do foco que a crise político-institucional brasileira cobra. Há um entrechoque de discursos, que alimenta um debate permanente em rede nacional, mas que está longe de passar à opinião pública uma mensagem confiável, sobretudo do governo do presidente Lula, o "Lulinha paz e amor".
Vende-se um rosário de peças de retórica, sofismas que são escudos à proteção e blindagem presidencial, para viabilizarem sua reeleição ao Palácio do Planalto este ano. É decepcionante se ouvir a ladainha de próceres do governo, considerando o bombardeio ao presidente como objeto de recalque e preconceito de uma chamada elite. De antemão, se confunde o próprio sentido da palavra elite.
A elite governante hoje é o PT, com apoio de certas forças historicamente burguesas, patrimonialistas, excludentes, oligárquicas e espoliadoras.
Descabida é a defesa ao presidente, se argüindo que por ter origem humilde, vindo do proletariado, do sertão nordestino e não possuir um canudo de curso superior, ele estaria sendo imolado por uma minoria privilegiada. Inconcebível ainda é que declarações como de ex-colaboradores do próprio partido do governo, veja-se o caso Sílvio Pereira, tenham o tratamento público de indiferença e desdém.
Estamos diante de um governo cínico, repetindo técnicas e o "modus operandi" de quem criticava quando era oposição. Os indícios de aparelhamento do Estado não são invencionices oposicionistas, mesmo se levando em conta que ela não está amparada moralmente para criticar e julgar. Entretanto, é inadmissível que a sociedade testemunhe a vulgarização da política, numa república onde o óbvio "lulante" passeia em movimento pendular, conceitual, entre o sujo e o mal lavado.

PRIMEIRA PÁGINA

LEONARDO – Um dos palestrantes do Seminário de Marketing Político e Eleitoral (Jornal de Fato/Modus), o paulista e especialista em pesquisa, Vicente de Salvi, deixou a turma que faz a pré-campanha do médico Leonardo da Vinci Nogueira (PFL) sobressaltada. Ele disse que transitando pela cidade viu adesivos com mensagens de péssimo gosto e que ensejavam sentidos diversos sobre "um médico". Faz sentido. Um desses adesivos afirma que "Leonardo é o cara". O cara de quê? Para quê? O cara que faz o quê?
LEONARDO II – Há tempos, quando escrevíamos para o Página Certa, alertamos para esse tipo de problema que passa despercebido a quem quer ajudar, "desinteressadamente", o médico e marido da prefeita Fafá Rosado (PFL). Outro slogan pobre é o tal "Médico da gente", numa associação perniciosa com o lema da administração Fafá Rosado. De qual gente? Gente da família?
LEONARDO III – Slogan e jingles de campanhas já deram muito volver em campanhas eleitorais. Há poucos anos, uma candidata a vereador em Mossoró tinha um jingle horroroso, onde se repetia indefinidamente "Socorro é (...)" até se completar, fora da letra original, o que ela poderia ser. Aí a imaginação era ampla. O “cara” e o “da gente” de Leonardo são analogias perfeitas e nefastas.
CONFISCO – Na Câmara Municipal de Mossoró, os vereadores tiveram um susto na hora de recebimento de extrato quanto aos seus vencimentos. Descontou-se uma contribuição para recente evento de uma empresa privada na cidade, sem autorização dos vereadores. A subtração atingiu até funcionários com cargos comissionados. O proprietário da empresa foi avisado sobre o caso e observa que a manobra, sem o seu apoio pessoal ou incentivo, deve causar problema de imagem à sua marca. Se o caso chegar ao Ministério Público, TCE...
SANGUESSUGAS – O escândalo da negociação de ambulâncias com fundações, prefeituras etc, envolvendo políticos, assessores parlamentares e outras espécies "humanas" promete render muito. A Polícia Federal investiga o caso. E é bom que se diga que o RN – e Mossoró – onde a "ambulancioterapia" é prática da classe política, não está fora do mapa do crime odioso que envolve milhões e afeta o cidadão humilde.
POVO? – A imprensa do RN cobre há meses o emaranhado que envolve formação de chapas à campanha deste ano, com mil fórmulas, muitas das quais bastante improváveis. Mas não se aborda, mesmo que superficialmente, nada que se refira a plano de governo, propostas sociais e iniciativas que na verdade beneficiariam o povo. Nem como objeto de retórica essa dialética está sendo adotada. A elite política do RN continua dando mostras de que o sentido de "massa" de vez se transformou em objeto de uso, não em sentido coletivo de gente.

GERAIS

- O empresário-radialista José Mendes, que tem programa matinal na Rádio Difusora, faz e refaz planos para seu horário. Tem motivos. A renovação contratual de José Mendes, por cifras adiantadas que pagou pelo espaço terceirizado, o deixa à vontade por cinco anos na emissora. Parabéns e sucesso.
- O advogado Honório de Medeiros, mossoroense que milita em Natal, mas escreve crônicas-artigos semanais para o jornal Página Certa (http://www.jornalpaginacerta.com.br/), vai lançar livro em breve. O conteúdo será coletânea do que tem escrito no semanário e outros textos. Honório é um escultor da língua-pátria, arrimado num detalhismo barroco.
- O comando geral da Polícia Militar do RN continua usando dois pesos e duas medidas, no tratamento dado à corporação na capital e interior. Um exemplo a mais: o vereador sargento Osnildo (PSL) de Mossoró propôs instalação de condicionador de ar em estrutura para policiais no 2º BPM (Mossoró), mas foi vetado. Já em Natal, local idêntico tem esse benefício, com tudo funcionando numa boa. E é porque o vereador prometeu doar os equipamentos necessários à obra.
- Continua em avançada deterioração o trecho da BR-304 entre Natal e Mossoró. O percurso entre Lajes e Mossoró é o que merece maior atenção. Em sua passagem para palestra por Mossoró, o ex-ministro José Dirceu comentou que era para existir duplicação da BR entre Mossoró e Natal. Só não disse por que o governo não desencadeou o empreendimento, cara pálida.
- A Orquestra Sanfônica de Mossoró, que reúne músicos onde predominam logicamente as sanfonas, está ensaiando às segundas-feiras no antigo Clube Ipiranga (Aceu), centro. O grupo é uma importante e real iniciativa à cultura de raiz, que o poder público local fomentou. Bem diferente da avalanche abjeta do forró elétrico produzido no Ceará e adotado por aqui como prata-da-casa. Ah, quem quiser apoiar a orquestra é só contatar pelo fone (84) 3312-0207.
- Os radialistas Ubiratan Saldanha e J. Régis da Rádio Difusora iniciam no próximo dia 19 uma excursão que tem como alvo principal o heterogêneo Chile, com belezas que vão do deserto do Atakama aos vinhedos. Boa viagem.

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A partir de hoje, um novo endereço na Internet responde pelo trabalho jornalístico que procuro desenvolver neste universo virtual. Depois de...