domingo, outubro 15, 2006

Artigo

O diagnóstico

Quem não for precavido e fizer pouco dos seus adversários, certamente será capturado por eles” (Sun Tzu)

“Edilson, você é médico até quando é professor”, disse-me o meu amigo filósofo Pablo Capistrano, na semana passada. Talvez seja mesmo verdade a afirmação do Pablo. E, por isso, acredito que vem daí a explicação de que em tudo eu tento dar um diagnóstico. Na música, no futebol e agora na política, vivo dando pitaco – quer dizer: diagnosticando tudo.

Domingo, à noite, não foi diferente. Terminado o debate – na rede bandeirantes –, lá vou eu e a minha mania de dar diagnóstico: Quem venceu a disputa? Lula ou Alckmin? Para decidir, precisei recorrer não a um médico, mas sim a um Chinês. Até por que a China foi citada pelo candidato tucano, como uma das vilãs de o Brasil não crescer...

Recorri-me a Sun Tzu e o seu maravilhoso livro “A arte da Guerra”. Abro aqui um parêntese, como fazia o grande e imortal (este sim é imortal) Nelson Rodrigues, para indicar o meu espanto pelo fato de constatar que, hoje, 25 séculos após a publicação desse livro, ainda existam políticos, no Brasil, que desconheçam essa obra. Fecho aqui o parêntese.

Após ler o capítulo X do livro de Sun Tzu, vejo que quem perdeu – e perdeu feio – o debate foi o tucano Geraldo Alckmin. “Mas como”, vocês podem está se perguntando, “se não foi o tucano quem agrediu o Presidente até o fim, encurralando-o nas cordas, como se fora uma luta de boxe?” Vou explicar, calma!

Para Sun Tzu, há seis formas de atrair a derrota numa guerra, mas, pelo espaço reduzido que tenho neste artigo, vou só citar apenas quatro, em que o tucano negligenciou: ira injustificável, subestima ao cálculo da força do inimigo, treinamento imperfeito e não observância da disciplina.

Logo no primeiro round, o tucano bateu firme no Presidente Lula, a ponto de a platéia delirar: “vai ser nocauteado”! E continuou batendo firme o tucano, até então chamado de picolé de chuchu...

A agressividade de Alckmin chegou a um ponto tão excessivo que, por vários momentos, pensei está diante de uma cópia genérica e mal feita de Collor de Mello. O picolé de chuchu virou um picolé de pimenta. Ao agredir o Presidente, chamando-o de mentiroso, Alckmin não percebeu que estava agredindo principalmente, não a Lula, mas sim à instituição Presidência da República.

Lula se apercebendo disso, armou mais uma arapuca para pegar o pássaro tucano: passou a ler as perguntas e até errando – talvez de forma proposital, para Alckmin dizer: “não sabe nem ler ou ler errado”. Ora, a maioria esmagadora desse país é analfabeta, não sabe ler nem escrever, sentiu-se, assim, atingida em cheio. E ninguém suporta o preconceito.

Lula ficou como vítima da história. Tornou-se o rato e não o gato, no famoso seriado Tom e Jerry. Alckmin subestimou Lula e ninguém pode agredir um mito (leiam o artigo perfeito do Roberto Pompeu de Toledo, na Veja da semana passada), sob pena de se autodestruir.

Essa mudança: da mansidão e educação para agressividade e arrogância, deixou perplexa a elite tucana – e vejam os resultados da pesquisa Datafolha, apontando queda de Alckmin, não só na classe rica como também na pobre, na região Sul e Nordeste.

Agressividade e mau-humor nunca ganharam campanha política. Não é com a ira que se mata e sim com o sorriso, já dizia o filósofo Nietzsche. Taí o exemplo da senadora Rosalba Ciarlini...

Bem, para fechar a série de diagnósticos, fica o questionamento: como pode R$ 9,90, conseguir vencer R$ 1.700.000 (valor do famoso dossiê)? Sim! Nove e noventa é quanto custa o livro a Arte da Guerra de Sun Tzu... vou pedir apoio ao amigo Pablo e à sua filosofia.

P.S. Meu consolo com a vitória de Lula é que minha carreira de escritor de artigo está salva – por pelo menos mais quatro anos – , pois o PT é o meu “caldo de cultura”.

Francisco Edílson Leite Pinto Junior - Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN

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