quinta-feira, setembro 21, 2006

COLUNA DO HERZOG (Primeira Edição)

O chefão

O mais recente escândalo envolvendo Lula & Cia. tornou evidentes duas coisas. A primeira já era sabida desde pelo menos o escândalo do mensalão, há mais de um ano. Ou seja, a cúpula petista instalou uma máfia sindical-partidária no aparelho do Estado.

A função dessa máfia é garantir condições para que Lula e seu grupo se eternizem no poder. O método é desviar recursos públicos e privados para financiar campanhas eleitorais, comprar adesões no Congresso e montar operações de intimidação contra eventuais adversários.

Embora ocupando postos de pouca visibilidade, o que caracteriza os integrantes da máfia é a lealdade antiga e canina a Lula, o chefão. São operadores acostumados a agir nas sombras da delinqüência municipal. Sua ação é agora "legitimada" por intelectuais como Marilena Chaui e Rose Marie Muraro, para as quais o imoral é moral se for bom para a cúpula do partido. Todo governo tem nichos de corrupção, muitas vezes incrustados na vizinhança dos amigos do presidente.

Mas são esquemas paralelos, de caráter "particular". Traduzem a sobrevivência do velho patrimonialismo brasileiro.

Onde o PT inovou foi ao estender esses pequenos esquemas ao aparelho governamental inteiro, dando-lhes, além de comando unificado, um caráter partidário e permanente.

De fato a corrupção se tornou "sistêmica", como querem os apologistas do governo. Não no sentido de resultar das mazelas do nosso sistema político, mas por configurar uma máquina impessoal agindo dentro do Estado.

O "dossiêgate", como vem sendo chamado, revelou no entanto algo mais perturbador do que essa notícia velha. Tornou evidente que, sob o beneplácito de Lula, a máfia continua a agir de modo cada vez mais desabrido. A impunidade, como era de se prever, gerou a desfaçatez.

O favoritismo eleitoral de Lula, turbinado pelas políticas de transferência de renda, aumentou ainda mais a sensação de impunidade. E espicaçou o atrevimento, a ponto de a facção mafiosa correr o risco de prejudicar a reeleição do chefe na tentativa de reverter a vantagem dos tucanos na eleição paulista.

O próprio Lula pergunta retoricamente o que teria a ganhar com uma operação criminal desse tipo, estando sua reeleição quase assegurada. É que em geral os asseclas são mais realistas que o rei. É que cedo ou tarde a "turma" passa a agir por conta própria.

Para ilustrar a constatação, basta lembrar que foi exatamente assim que o chefe de segurança de Getúlio mandou matar Lacerda, a principal voz da oposição em 1954, num crime imbecil que derrubaria o presidente em qualquer democracia.

Se houver segundo mandato, haverá muito trabalho para o Ministério Público, para o Judiciário e para o que restar de imprensa independente "neste país".

* Otávio Frias Filho - Diretor de redação da Folha de São Paulo

PRIMEIRA PÁGINA

SURUBA POLÍTICA - Diretora do Teatro Alberto Maranhão, Hilneth Correia participou há dois dias, em Natal, de jantar em homenagem ao candidato a deputado federal João Maia (PL). Por lá, pediu votos para o homenageado, para o senador Fernando Bezerra (PTB) e à governadora Wilma de Faria (PSB). Até aí tudo bem e previsível. Depois, parece que baixou um "encosto" e ao ver um irmão do candidato ao Senado Geraldo Melo (PSDB), ela danou-se a alargar pedidos em favor do baixinho. O interessante, é que ainda há vaga para que HIlneth, como se comenta, votar em Henrique Alves (PMDB) à Câmara Federal. Ufa!

TOALHA - Com pesquisas internas em mãos, que encomenda para análise própria, independentemente das feitas pela cúpula da "Vontade Popular", o ex-deputado Carlos Augusto rendeu-se. Jogou a toalha. Não vê, tem comentado entre interlocutores próximos, meios para ressuscitar a candidatura de Rosalba Ciarlini (PFL) ao Senado. O "Gari", diz casmurro, "que se vire" para arranjar dinheiro para o restante da campanha.

AGORA? - Não entendo por que só agora a imprensa de Natal está descobrindo a existência de um submundo nada glamouroso na política de Mossoró. Pelo visto, parece que o jornalismo investigativo foi banido aqui da capital, onde me encontro. O escândalo sobre o "Folioduto" mossoroense está na superfície há tempos, mas somente nesses dias o observaram melhor. O jornal Página Certa há dois anos deu detalhes sobre "A máfia dos homens de branco" e ninguém quis saber do assunto, bem pior do que o atual. Há pouco mais de um mês, o mesmo periódico mostrou detalhes do empreguismo, sinecuras e nepotismo na Prefeitura de Mossoró e outra vez Natal fechou os olhos. O Folioduto é fichinha. O esgoto é muito mais fétido.

GIL - Circulando nas proximidades do Midway Mall, em Natal, vejo-me diante de "Gil Móveis", candidato a deputado estadual pelo PV. O carequinha e um boneco enorme, à sua semelhança, fazem ponto em semáforo no trabalho de catequese eleitoral. Nos programas eleitorais na TV, Gil faz barulho manuseando o que seria um rato, símbolo da corrupção. Pessoalmente é sereno e inofensível. Aparentemente. No santinho que me entrega, também se revela simpático. Salve, salve, Gil!

CÁ PRA NÓS - Acho que cutucaram o Ministério Público com vara curta, quando transferiram o promotor Alexandre Frazão, substituto do Patrimônio Público em Mossoró, para a comarca oestana de Apodi. Pelo que deu para perscrutar, o material em mãos do MP, sobre a Prefeitura de Mossoró e os hábitos dos seus inquilinos de misturarem o público com o privado, não é pouca coisa. Muito bacana teve telefone grampeado, andou dando vacilo, falando mais do que devia e...

DÚVIDA CRUEL - Chamado a uma modesta casa da periferia mossoroense, recolho sob o pedestal de uma imagem de Nossa Senhora, em oratório no cantinho da sala com iluminação precária, um santinho com a foto da governadora WIlma de Faria (PSB). Um contraste com o frontispício da moradia, onde ilustram o lugar vãrios cartazes com Garibaldi Filho (PMDB), Rosalba Ciarlini (PFL) e candidatos a deputado estadual e federal da "Vontade do Povo". Daí, observando tudo, fico a me perguntar: esse povo está sendo incorreto ou apenas reproduzindo a dialética da incorreção?

GERAIS

- O Colégio Contemporâneo de Natal faz evento de peso hoje a partir das 19h, no Centro de Convenções em Natal. É o "Fest Show", com apresentações culturais por seus alunos, em montagens teatrais.
- O advogado Honório de Medeiros prepara nova incursão pelo universo sertanejo da Paraíba, Ceará e RN. Mergulha em busca de novos elementos para fechar material do seu livro sobre o cangaceiro "Massilon".
- Os dirigentes do Potiguar estão com projeto arrojado para centro de treinamento do clube, com direito a estádio para pequenos jogos. Um conselho: cuidado para não repetirem o que fez o América em Natal, que construiu algo com olhos de gigantismo e quase desaparece com seu custo.
- Obrigado a Flussier Galdino da Justiça Eleioral em Mossoró, Emerson Pires de Miami (EUA) e ao jornalista Alex Medeiros (Jornal de Hoje) pela leitura deste Blog.

SÓ PRA CONTRARIAR

Em termos de política, pelo menos num ponto governo e oposição estão quites no RN: cada um tem o Folioduto que merece.

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Comunicado final deste Blog Jornalístico

A partir de hoje, um novo endereço na Internet responde pelo trabalho jornalístico que procuro desenvolver neste universo virtual. Depois de...