Uma montanha de evidências, documentos e fatos mostram que o chefe da Controladoria Municipal de Mossoró é inapto para o cargo ou conivente com o que é denunciado pelo Página Certa
Quando começou a borbulhar na superfície do Congresso Nacional o escândalo denominado de “Mensalão”, um personagem ganhou súbita notoriedade. Homem tido como inteligente, polido, feito nas lides forenses e em especial nos tribunais de júri, o deputado Roberto Jefferson (PDT) disparou uma frase que ecoou pelo país, mas antes ficou latente no Palácio do Planalto.
- Sai daí, Zé! – bradou Roberto Jefferson.
O Zé era o ministro todo-poderoso da Casa Civil, espécie de Rasputin numa versão à brasileira, advogado e deputado licenciado José Dirceu (PT). Com a marcha dos acontecimentos, o ministro não apenas foi desalojado da sala em anexo à Presidência da República, como também foi cuspido da Câmara Federal, para onde correu, após sair do cargo ministerial.
A pelo menos uns 3 mil quilômetros de Brasília, precisamente em Mossoró, muita gente esclarecida e que começa a se inteirar sobre o escândalo desmedido embutido na folha de pessoal da prefeitura, fica a se perguntar: o que o industrial e economista Noguchi Rosado, irmão da prefeita Fafá Rosado (PFL), está fazendo na titularidade da Controladoria Municipal?
Dá uma tentação danada de se repetir Jefferson, se recomendando o mesmo ao controlador do município. Uma saída, às pressas, do cargo que ocupa desde o primeiro dia de mandato de sua mana.
Ungido como guardião das contas públicas, inatacável e preparado para o exercício da função de não deixar passar nada que atentasse contra o governo e erário, Noguchi Rosado não conseguiu perceber que vários sobrinhos, parentes, aderentes, patinhos de borracha, pingüins de geladeiras e outras figuras da fauna familiar e agregados, estão na folha municipal. Mas esse não é o grande problema: parte considerável sequer reside em Mossoró ou deu um dia de expediente.
Pode-se atenuar o impacto dessa avalanche de situações nebulosas, se arguindo a defesa do controlador sob o ponto de vista da inexperiência no serviço público. Antes disso ele tinha exercido papel parecido na gestão de outro parente, a prefeita – hoje deputada federal e adversária - Sandra Rosado (PSB), em 96.
Bom, tudo bem! Vá lá que os 69 dias de governo de Sandra, não moldaram Noguchi às minudências de um cargo como este. O irmão da prefeita foi plantado num canto-chave que é entrada-saída de tudo que diz respeito às contas municipais, para imprimir selo de lisura.
100 OLHOS
Invocando-se a mitologia grega, é possível traçar um paralelo entre Noguchi Rosado com o gigante Argos.
Possuidor de 100 olhos, Argos Panoptes foi incumbido de vigiar a jovem Io. Mesmo quando dormia, ele mantinha pelo menos 50 olhos abertos. Ávido por libertar sua amante, o deus Zeus apontou Hermes à tarefa. Argos vacilou e terminou decapitado. Segundo a lenda, seus olhos passaram a enfeitar a cauda de um pavão da deusa Hera.
É lógico, que diante de tudo que foi denunciado, com tantos documentos em jogo e atentando contra honra de muitos e do governo do qual faz parte, Noguchi fez muito pouco para provar em contrário. Preferiu o silêncio. Como se a atitude desse o caso como concluído ou significasse um atestado de idoneidade. Faltou até aqui o básico quando se lida com o alheio: respeito. E o alheio é da maioria, o povo.
No papel de controlador, Noguchi está longe de representar competência. Numa confrontação com o célebre personagem de Agatha Christie, escritora britânica de enredos policiais, ele jamais se investiria na pele do inspetor Hercule Poirot. “Nunca se deve dispensar o trivial”, repetia Poirot. Pelo que é possível se identificar, o controlador errou no atacado, sem ver o comboio do empreguismo desenfreado no governo.
O que eclodiu nas entranhas do governo durante toda a semana, desde que a reportagem-denúncia do Página Certa começou a desfiar o escândalo do “folhaduto” foi um pente fino interno. A ordem, a qualquer custo, foi descobrir quem passara ao conhecimento público os dados sobre a folha de pessoal. E olhe que o material deve ser público mesmo, visto se tratar de uma empresa do povo e não familiar.
O atual secretário da Administração - Manoel Bezerra - e o seu antecessor Sebastião Almeida foram para a sabatina. Até o momento não foi descoberto quem prestou esse serviço à sociedade. Porém, a caça às bruxas voltou aos tempos do regime ditatorial, com inúmeras medidas de cerco a este jornal e colaboradores. Ou seja, a culpa está do outro lado do rio. Não se percebe que o péssimo odor transpira do subsolo do Palácio da Resistência.
FARSA
A Controladoria Municipal é uma farsa em virtude dos resultados do seu trabalho de filtrar excessos, impedir irregularidades. Nos tempos de vesperal no Cine Pax, o folclórico porteiro “Balão” era muito mais competente do que Noguchi escudando o cofre da prefeitura. Aos meninos mais inquietos que saltavam a roleta ou se esgueiravam pela porta visando acesso sem pagar ingresso, a agilidade de Balão era similar a um Argos acordado.
O policial “Catota” é outro personagem da geografia humana que, ressuscitado a exemplo de Balão, daria um ótimo controlador municipal. Um exemplo de objetividade e transparência.
No auge do futebol amador no campo da Rua Benjamim Constant, Catota era pragmático no combate à evasão de renda. Quando constatava um lote de meninos, lisos, sobre o muro que cercava o local, arbitrava ordem salomônica: “Pra dentro ou para fora”. Claro que a gurizada mergulhava à parte interna, para ver seus ídolos.
Diante de tudo que está envolvendo a coisa pública, a defensiva do secretário-chefe da Controladoria Municipal é um acinte. Cabe, então, reproduzir Jefferson:
- Sai daí, Noguchi!
Carlos Santos (Agência Herzog)
*Matéria publicada na edição de hoje, domingo, 13, do semanário Página Certa (www.jornalpaginacerta.com.br).
Um comentário:
Parabéns pela matéria Carlos...
Seu blog como sempre recheado de notícia quente...
Postar um comentário