quarta-feira, setembro 06, 2006

COLUNA DO HERZOG (Primeira Edição)

Voto de protesto e patologia social

Desde o início dos anos 80, com o início do processo de redemocratização do país, a partir do desmanche gradual do regime militar, ganha corpo uma modalidade de iniciativa popular conhecida como “voto de protesto”. Mais do que se optar pela anulação formal ou voto em branco, se inclinava à escolha de um candidato caricato ou inexistente.

A postura de inúmeros eleitores, articulados ou não, seria a representação material do desapontamento do brasileiro com a classe política. Com o voto sendo posto em cédulas impressas, não faltavam os desabafos em forma de palavrões e outros manifestos.

Com o advento do voto eletrônico, o “protesto” não pára. Têm surgido candidatos burlescos, que atraem o foco dos que reagem à política e seus maus costumes. O mais recente produto dessa distorção da democracia, com relativo êxito, é o sargento reformado do Exército, Miguel Mossoró. Como candidato a prefeito de Natal chegou a provocar o segundo turno com uma enxurrada de votos.

Agora, candidato a deputado estadual, Miguel não deverá repetir a performance. Entretanto, vê surgir em sua trilha, uma série de personagens risíveis, encarnando ou mergulhando nessa vertente que ele pegou em 2004.

Na prática, não há protesto algum em se fazer uma opção pelo histriônico. Os partidos que registram esse tipo de candidaturas estão complementando o engodo da política praticada no Brasil há alguns anos. Transformam personagens mambembes em candidatos, sem que isso contribua em nada ao fortalecimento das instituições e da democracia. Ao mesmo tempo constrangem os que são sérios e de bons propósitos.

Com Miguel Mossoró, em 2004, tivemos o retrato fiel do que defendo acima. No segundo turno ele virou subproduto como outro elemento político qualquer. Cadê o protesto? Puxado por movimento universitário e de setores da classe média natalense, Miguel foi apenas mais uma piada sazonal, em que o riso por último ficou com a elite política do Rio Grande do Norte.

Se o mesmo esforço tivesse sido empreendido para se eleger um representante à altura do ambiente universitário e da classe média, indignada, os resultados poderiam ser melhores. Portanto, protestar nesses termos significa anulação em massa, o que é ótimo para os donos do poder. Burrice continuada vira patologia social.

PRIMEIRA PÁGINA

PELOTÕES – O candidato Geraldo Melo tem recebido comunicados regulares da equipe que trabalha seu nome em Mossoró. Os dados batem com pesquisas: ele caminha para ser o segundo mais votado no município.

SECRETO – O fim do voto secreto, decisão que o Congresso Nacional tomou ontem, é mais uma postura movida pela pressão das ruas. Tudo feito de supetão. É acertada, sem dúvidas. O representante popular não pode ficar se escondendo no plenário, na hora de se manifestar no trabalho que deve ser em favor do representado. Mas a prioridade mesmo deveria ser reformulação – que já houve, mas é tênue – nos critérios quanto ao foro privilegiado e imunidade parlamentar, que virou blindagem para bandidos engravatados. Uma malta travestida de político.

DURA – Não foi por acaso que os grupos Alves e Maias fizeram uma “joint-venture” política esdrúxula no Rio Grande do Norte. Mesmo unidos estão tendo dificuldade para “matar” a hidra da terceira força, a governadora Wilma de Faria (PSB). A gente sabe que essa comunhão não tem nada a ver com interesses do RN e, sim, aspirações particulares e dos esquemas. Quem estuda um pouquinho história e envereda pela Ciência Política entende o que se engendrou.

LULA-CÁ – Leio na imprensa da capital e do interior que está se organizando uma contra-ofensiva contra a vinda do presidente Lula ao RN, quando fará dois comícios à próxima semana em favor de Wilma de Faria e o senador Fernando Bezerra (PTB). Fico imaginando se esse povo, massa de manobra, tivesse a mesma “naturalidade” para protestar contra Folioduto, Máfia dos Homens de Branco, Folhaduto da Prefeitura de Mossoró, Presídio Federal, migração de refinaria para Pernambuco etc, como o nosso RN seria melhor. E fica uma pergunta: quantos desses políticos que aí estão sobreviveriam ao povo esclarecido e agente do seu próprio destino?

TEMPORADA – Começou a temporada de caça aos votos de dois candidatos que marcham em faixa própria, amparados no voto famélico, “Chico da Prefeitura” (PFL) e Francisco José (PMN). Em Mossoró, as estruturas tradicionais botam nas ruas operação para que se dilapide o patrimônio de intenção de votos de ambos.

BATENDO – Cantamos a pedra aqui no início da campanha. A operação que Micarla de Sousa (PV) fez no PV e Álvaro Dias (PDT) para se elegerem à Assembléia Legislativa, usando os demais como “esteira”, não está batendo. O quadro para Micarla parece pior. Gilson Moura (PV), com um grande trabalho social, vereador em Natal e com trajetória bonita na política, deve superar a “criadora” Micarla. Álvaro tende a ser atropelado pela bela Gesane Marinho (PDT). Porém, tem boas chances de se eleger também. O problema do esperto, é que um dia acaba tropeçando na própria sabedoria.

GERAIS

- Uma sugestão à prefeita Fafá Rosado (PFL): cuide do Mercado Público do Alto da Conceição. O prédio está caindo aos pedaços e em péssimas condições sanitárias.
- Ih, Mecão! Mantendo um excelente nível de aproveitamento jogando no Machadão, ontem o América caiu para o Paysandu por 0 x 1. A expectativa era que fosse decolar de vez.
- Nossa conexão com a Internet continua com grave deficiência. Por isso tamanha dificuldade para atender à demanda por matérias, cobrada pelo webleitor.
- Obrigado a Aurineide Nogueira (mossoroense que reside há 35 anos em Brasília), advogado Evânio Araújo e médico Damião Nobre pela leitura deste Blog.

SÓ PRA CONTRARIAR

E se Lula estivesse apoiando Garibaldi Filho, será que se organizaria algum “protesto popular”?

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