domingo, janeiro 14, 2007

Artigo (Edilson Pinto)

Dos ratos e homens

Estava participando da banca (em Recife, na UFPE) de defesa de tese de um amigo do Departamento de Cirurgia da UFRN, quando lancei a idéia. Confesso que não é minha e muito menos é original. Portanto, não serviria como tema de tese de doutorado, pois para isso, há necessidade de o assunto, a hipótese a ser defendida, ser inédita; mas... duvido que, depois dos gregos, haja alguma coisa original no mundo...

Pois bem, vamos lá! A “tese” - quer dizer: a idéia - lançada por mim, seria a de que os homens não seriam provenientes dos macacos e sim dos ratos. Surpresos! Pois aguardem que irei defender essa minha tese e acho que no final convencerei a todos.

Há anos que estamos vendo diversas nações sendo assaltadas pelos que ocupam o poder. Isso não é coisa de ratos? As nações vêm sendo roídas por dentro, nas suas entranhas, com corrupção por todos os lados... isso não é coisa de ratos? E são ratazanas famintas que quanto mais comem mais sentem fome... E essa gula desenfreada destrói, a cada dia, nossas nações e os seus sonhos... E as estradas? Sim! As estradas são verdadeiros queijos suíços repletos de crateras e buracos...

Ratos que promovem desordem: verdadeiros “apagões” nos céus; mas que promovem com uma garra incomparável: “clarões” nos seus salários. Aumentam seus honorários em até 91%. Muitos pensam que foi significativo, mas, se levarmos para análise estatística, com os testes de significância – como o teste t de Student – , veremos que não foi nem tão significativo, pois na estatística algo para ser significante precisa ser maior ou igual a 95%. Portanto, os ratos foram até modestos... deveriam é ter mesmo aumentado em 500%, para justificar o seu longo trabalho em prol de nada e de coisa nenhuma...

José Ingenieros, escritor médico argentino – que morreu aos 48 anos de idade – , no seu fabuloso livro “O homem medíocre”, conta uma lenda que, quando o criador povoou o mundo de homens – ou seria de ratos, como defendo eu e muitos? – começou por fabricar os corpos à guisa de manequins. Mas, antes de colocá-los em circulação, levou suas caixas cranianas e encheu as cavidades com pastas divinas, amalgamando aptidões e qualidades de espíritos, boas e más. No entanto, houve um imprevisto ao calcular as quantidades, e muitos ficaram sem a mistura e foram enviados ao mundo sem nada dentro da cabeça, que serve puramente de ornamento.

Acredito, então, já que muitos não desenvolveram o crânio, tiveram que superar em outra parte, em outro órgão. Assim surgiram os mega-estômagos (estômagos gigantes), fazendo com que os homens não se colocassem mais de pé e sim, deitados sobre o ventre como ratos, rastejando pelo poder. E olha que Deus tinha atribuído apenas às serpentes essa função de rastejar sobre o ventre... mas os ratos são fogo: aprendem rápido. Aprendizado por puro instinto...

Outro doutor, agora em teologia, o escritor das “Viagens de Gulliver”, Jonathan Swift, também desconfiando da origem dos homens, certa vez escreveu uma carta ao seu amigo Alexander Pope, afirmando: “Estou coligindo dados para desmascarar o homem como animal racional, que parece comprazer-se no cultivo dos instintos e nada de bom constrói...”.

Penso que Swift, quando na primeira parte das viagens em que Gulliver visitou o país Liliput, também pensava como eu e muitos: “Os homens são provenientes dos ratos”. Pois, sabem como o imperador da Liliput escolhia os seus representantes para ocuparem os altos cargos da corte? Não sabem?! Pois aí vai: o imperador segurava um bastão, mantendo um paralelo com o horizonte, e os candidatos aproximavam-se um a um, saltando por cima e, muitas vezes, rastejando por baixo dele. E quem desempenhasse sua parte com mais agilidade – quem rastejasse mais –, seria premiado com a fita azul e ocuparia o cargo em questão... que a ordem protetora dos animais me perdoe –, mas isso não é coisa de ratos?

Já que só estou falando de Doutores, termino, pedindo desculpa ao magistral médico e escritor Guimarães Rosa que, no seu Grande Sertão: veredas, dizia que o diabo não existia; o que existia era homem humano. Pois, eu acho mesmo é que o que existe é homem rato... mas, por favor, não vamos culpar Noé e a sua arca...

Francisco Edílson Leite Pinto Junior - Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN

Nenhum comentário:

Comunicado final deste Blog Jornalístico

A partir de hoje, um novo endereço na Internet responde pelo trabalho jornalístico que procuro desenvolver neste universo virtual. Depois de...