Para João Hélio...
“A consciência do SER desvaloriza todas as ilusões do TER. Quando aparece a luz, desaparecem as trevas. Quem abre o olho do espírito fecha os olhos para a matéria”.
(Huberto Rohden)
Na sabedoria oriental, a regra mágica dos 21, nos ensina que para surgir um novo comportamento – entre os homens e as mulheres –, e se cristalizar em hábito, é necessário executar essa nova atividade, por 21 dias seguidos.
Dia 28/02/2007, fez exatamente vinte e um dias, que o menino de seis anos, João Hélio Fernandes foi arrastado, por 7 Km, na zona norte do Rio, durante 15 minutos (tempo esse, de quase duas vezes, que a luz gasta para viajar do sol a terra), e até agora, eu me pergunto: “o que foi feito? Quantos ‘Joãos’ ainda precisam ser tirados de cena, para que a sociedade comece a se mexer?”.
Tenho quarenta anos – e como a irmã do João, Aline, de quatorze anos – também estou péssimo. Também desejo justiça rigorosa e peço consciência: “É preciso mudar!”.
Diz Pitágoras que todas as coisas são números. E os números estão aí para mostrarem em que esta sociedade consumista nos transformou: “Um bilhão de pessoas vivem em extrema pobreza; 500 empresas transnacionais mais importantes da revista Fortune detêm 75% do PIB mundial; 14 milhões de crianças morrem antes de completarem cinco dias de existência; na verdade, uma criança morre a cada cinco minutos; 100 milhões de crianças vivem nas ruas...”.
Os físicos Faraday e Maxwell dizem que cada carga gera uma perturbação, ou uma condição, no espaço circunvizinho de tal forma que a outra carga, quando se acha presente, sente uma força. Ou seja, traduzindo para a linguagem dos comuns: se não olharmos para esses excluídos, o mais rápido possível, mudando a sua vida, a sua miséria, a sua fome... eles nos mostrarão – através de atos de barbárie – que eles existem! É aquilo que afirmava Camus: “Eu me revolto, logo existo!”.
E o que me revolta é que seria preciso tão pouco para mudar o curso da história. Precisaríamos, talvez, apenas de dois croissants e um chocolate quente, como foi oferecido ao filósofo Jean-Yves Leloup – como ele conta no seu livro o “Absurdo e a Graça” – por uma senhora de Marselha, cujo rosto e traços são ignorados, para se conhecer, pela primeira vez, o que os gregos chamavam de amor ágape, o amor incondicional, o amor do criador.
Mas não! A sociedade caminhando em passos largos, cada vez mais para acumular, para o ‘ter’ – tentando satisfazer a sua insatisfação crônica com a vida – , esquece do ‘ser’. E assim estar pecando, pois “pecar é errar o alvo”. Peca, por esquecer os ensinamentos da filosofia chinesa que nos mostra que é melhor possuir muito pouco do que demasiado, que é melhor caminhar na direção correta, do que ir muito longe: “O homem que quer ir sempre mais e mais longe em direção ao leste acabará a chegar ao oeste, aqueles que acumulam mais e mais dinheiro a fim de ampliar sua riqueza acabarão na pobreza”... e é por isso que estamos lamentando agora: pobre vida!
Pobre João! Você foi arrastado de forma animalesca por alguns que nunca souberam o que era amor, caridade, fraternidade, amizade, bondade, etc, etc... nunca receberam talvez, nem um abraço, nenhum croissant, nenhum olhar sequer de piedade... compreenda que eles não amam, pois nunca foram amados – assim, vivem num inferno...
Mas, o que nos conforta neste momento, do absurdo, é esperar que a Terceira Verdade Nobre do Budismo esteja mesmo certa: “O sofrimento e a frustração podem chegar a um fim”. Que o seu fim, seja o começo. Que o seu sofrimento, seja não mais um alerta, mas sim a definitiva conscientização coletiva de fazemos parte de uma única, indistinta e indivisível, família chamada humanidade.
Francisco Edílson Leite Pinto Junior - Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN
“A consciência do SER desvaloriza todas as ilusões do TER. Quando aparece a luz, desaparecem as trevas. Quem abre o olho do espírito fecha os olhos para a matéria”.
(Huberto Rohden)
Na sabedoria oriental, a regra mágica dos 21, nos ensina que para surgir um novo comportamento – entre os homens e as mulheres –, e se cristalizar em hábito, é necessário executar essa nova atividade, por 21 dias seguidos.
Dia 28/02/2007, fez exatamente vinte e um dias, que o menino de seis anos, João Hélio Fernandes foi arrastado, por 7 Km, na zona norte do Rio, durante 15 minutos (tempo esse, de quase duas vezes, que a luz gasta para viajar do sol a terra), e até agora, eu me pergunto: “o que foi feito? Quantos ‘Joãos’ ainda precisam ser tirados de cena, para que a sociedade comece a se mexer?”.
Tenho quarenta anos – e como a irmã do João, Aline, de quatorze anos – também estou péssimo. Também desejo justiça rigorosa e peço consciência: “É preciso mudar!”.
Diz Pitágoras que todas as coisas são números. E os números estão aí para mostrarem em que esta sociedade consumista nos transformou: “Um bilhão de pessoas vivem em extrema pobreza; 500 empresas transnacionais mais importantes da revista Fortune detêm 75% do PIB mundial; 14 milhões de crianças morrem antes de completarem cinco dias de existência; na verdade, uma criança morre a cada cinco minutos; 100 milhões de crianças vivem nas ruas...”.
Os físicos Faraday e Maxwell dizem que cada carga gera uma perturbação, ou uma condição, no espaço circunvizinho de tal forma que a outra carga, quando se acha presente, sente uma força. Ou seja, traduzindo para a linguagem dos comuns: se não olharmos para esses excluídos, o mais rápido possível, mudando a sua vida, a sua miséria, a sua fome... eles nos mostrarão – através de atos de barbárie – que eles existem! É aquilo que afirmava Camus: “Eu me revolto, logo existo!”.
E o que me revolta é que seria preciso tão pouco para mudar o curso da história. Precisaríamos, talvez, apenas de dois croissants e um chocolate quente, como foi oferecido ao filósofo Jean-Yves Leloup – como ele conta no seu livro o “Absurdo e a Graça” – por uma senhora de Marselha, cujo rosto e traços são ignorados, para se conhecer, pela primeira vez, o que os gregos chamavam de amor ágape, o amor incondicional, o amor do criador.
Mas não! A sociedade caminhando em passos largos, cada vez mais para acumular, para o ‘ter’ – tentando satisfazer a sua insatisfação crônica com a vida – , esquece do ‘ser’. E assim estar pecando, pois “pecar é errar o alvo”. Peca, por esquecer os ensinamentos da filosofia chinesa que nos mostra que é melhor possuir muito pouco do que demasiado, que é melhor caminhar na direção correta, do que ir muito longe: “O homem que quer ir sempre mais e mais longe em direção ao leste acabará a chegar ao oeste, aqueles que acumulam mais e mais dinheiro a fim de ampliar sua riqueza acabarão na pobreza”... e é por isso que estamos lamentando agora: pobre vida!
Pobre João! Você foi arrastado de forma animalesca por alguns que nunca souberam o que era amor, caridade, fraternidade, amizade, bondade, etc, etc... nunca receberam talvez, nem um abraço, nenhum croissant, nenhum olhar sequer de piedade... compreenda que eles não amam, pois nunca foram amados – assim, vivem num inferno...
Mas, o que nos conforta neste momento, do absurdo, é esperar que a Terceira Verdade Nobre do Budismo esteja mesmo certa: “O sofrimento e a frustração podem chegar a um fim”. Que o seu fim, seja o começo. Que o seu sofrimento, seja não mais um alerta, mas sim a definitiva conscientização coletiva de fazemos parte de uma única, indistinta e indivisível, família chamada humanidade.
Francisco Edílson Leite Pinto Junior - Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN
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