O sinal da cruz
"Amo Cristo, mas tenho medo dos cristãos..." (Gandhi)
Pronto! Por pelo menos mais quatro anos, vocês terão que agüentar: eu e os meus artigos. Sim! Lula ganhou. E como eu já tinha alertado que “o PT é o meu caldo de cultura”, nada melhor do que iniciar essa nova fase – repito – por mais quatro anos, tentando encontrar uma explicação para o resultado dessas eleições.
– Não tem assunto melhor para escrever? Vocês podem perguntar-me. E eu respondo: não! Não tenho nada mais interessante para falar, pois não sou poeta como Maiakósvski. Sou apenas um médico. Curioso (que o amigo Ricardo, permita-me usar o seu sobrenome). E é essa curiosidade que fica a martelar a minha cabeça: o que foi que aconteceu? Por que novamente tudo se repetiu? Sessenta por cento dos votos válidos, não foi demais?! Onde está o quarto poder: a imprensa? Será que o jornalista Carlos Heitor Cony foi profético ao afirmar que o mercado de informações, em breve, estará tão poluído que dificilmente saberemos o que ainda não sabemos: o que é mentira e o que é verdade?
Mas... tenho que encontrar essa verdade, para libertar-me dessas dúvidas. E as verdades são como as rosas... Sim ! “A vida é mesmo como uma rosa”, diz o filósofo Jean-Yves Leloup, “que nos inebria com o seu perfume e nos dilacera com os seus espinhos”. E foi através desse filósofo e do seu livro “Além da luz e da sombra”, que, talvez, encontrei a explicação para tudo isso: o perdão do povo brasileiro ao presidente Lula.
Antigamente, nos primeiros doze séculos, conta Jean-Yves, o sinal da cruz começava por uma linha vertical, da testa ao peito, e logo em seguida, do ombro direito para o esquerdo, simbolizando a passagem da justiça (à direita), para a misericórdia (à esquerda). Hoje, a coisa mudou. A modernidade fez com que o sinal da cruz seja feito da esquerda para a direita, da misericórdia para a justiça. O julgamento Cristão, portanto, passa primeiro pelo lado esquerdo – pelo lado do coração – para depois chegar à justiça. A justiça de fato e de direito... e a justiça é mesmo direita?
E o danado é que foi mesmo feliz o filósofo Blaise Pascal ao dizer: “O coração tem razões em que a própria razão desconhece”. Tudo bem! Sei que o perdão significa não aprisionar o outro nas conseqüências negativas de seus atos. Mas, sei também que Platão nos deixou o seguinte conselho: “Aquele que tudo compreende, tudo perdoa”. E o que eu não compreendo é: será que os fins, justificam os meios? Na política, tudo é lícito, pois o feio é perder?
Então, socorro-me, de novo, do Jean-Yves: “Perdoar você, significa que eu compreendo, mas não quer dizer que eu o desculpo ou o que você fez é bom. Compreendo que você é um ser humano, que é capaz de me enganar como eu próprio faria se, provavelmente, estivesse nas mesmas condições”.
Ah!! Coisa difícil é o perdão, pois temos que manter um olho na verdade e outro na misericórdia, porque “A verdade sem amor é Inquisição, mas o amor sem verdade é permissivo”...
Pois bem, Presidente Lula, mesmo sabendo que temos que perdoar nosso irmão setenta vezes sete, como nos ensinou o Mestre, é bom não abusar. Pois, assim, como adverte o poeta Vinicius de Morais: “Cuidado! O perdão também cansa de perdoar”...
Então, aproveite essa nova chance, para verdadeiramente fazer as mudanças que tanto desejamos. Que você faça as tão almejadas reformas política, no judiciário e no sistema tributário, etc, etc... Que você escolha melhor as suas companhias. Que você possa mostrar que ética e política podem viver lado a lado, sim. Que você enxergue melhor as coisas em sua volta. Que você abra bem os ouvidos, para ouvir os sussurros nos gabinetes ao seu lado... Que você fique menos deslumbrado pelo poder: com os pés no chão, como no segundo turno e não nos saltos-altos do primeiro mandato...
Francisco Edílson Leite Pinto Junior - Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN
"Amo Cristo, mas tenho medo dos cristãos..." (Gandhi)
Pronto! Por pelo menos mais quatro anos, vocês terão que agüentar: eu e os meus artigos. Sim! Lula ganhou. E como eu já tinha alertado que “o PT é o meu caldo de cultura”, nada melhor do que iniciar essa nova fase – repito – por mais quatro anos, tentando encontrar uma explicação para o resultado dessas eleições.
– Não tem assunto melhor para escrever? Vocês podem perguntar-me. E eu respondo: não! Não tenho nada mais interessante para falar, pois não sou poeta como Maiakósvski. Sou apenas um médico. Curioso (que o amigo Ricardo, permita-me usar o seu sobrenome). E é essa curiosidade que fica a martelar a minha cabeça: o que foi que aconteceu? Por que novamente tudo se repetiu? Sessenta por cento dos votos válidos, não foi demais?! Onde está o quarto poder: a imprensa? Será que o jornalista Carlos Heitor Cony foi profético ao afirmar que o mercado de informações, em breve, estará tão poluído que dificilmente saberemos o que ainda não sabemos: o que é mentira e o que é verdade?
Mas... tenho que encontrar essa verdade, para libertar-me dessas dúvidas. E as verdades são como as rosas... Sim ! “A vida é mesmo como uma rosa”, diz o filósofo Jean-Yves Leloup, “que nos inebria com o seu perfume e nos dilacera com os seus espinhos”. E foi através desse filósofo e do seu livro “Além da luz e da sombra”, que, talvez, encontrei a explicação para tudo isso: o perdão do povo brasileiro ao presidente Lula.
Antigamente, nos primeiros doze séculos, conta Jean-Yves, o sinal da cruz começava por uma linha vertical, da testa ao peito, e logo em seguida, do ombro direito para o esquerdo, simbolizando a passagem da justiça (à direita), para a misericórdia (à esquerda). Hoje, a coisa mudou. A modernidade fez com que o sinal da cruz seja feito da esquerda para a direita, da misericórdia para a justiça. O julgamento Cristão, portanto, passa primeiro pelo lado esquerdo – pelo lado do coração – para depois chegar à justiça. A justiça de fato e de direito... e a justiça é mesmo direita?
E o danado é que foi mesmo feliz o filósofo Blaise Pascal ao dizer: “O coração tem razões em que a própria razão desconhece”. Tudo bem! Sei que o perdão significa não aprisionar o outro nas conseqüências negativas de seus atos. Mas, sei também que Platão nos deixou o seguinte conselho: “Aquele que tudo compreende, tudo perdoa”. E o que eu não compreendo é: será que os fins, justificam os meios? Na política, tudo é lícito, pois o feio é perder?
Então, socorro-me, de novo, do Jean-Yves: “Perdoar você, significa que eu compreendo, mas não quer dizer que eu o desculpo ou o que você fez é bom. Compreendo que você é um ser humano, que é capaz de me enganar como eu próprio faria se, provavelmente, estivesse nas mesmas condições”.
Ah!! Coisa difícil é o perdão, pois temos que manter um olho na verdade e outro na misericórdia, porque “A verdade sem amor é Inquisição, mas o amor sem verdade é permissivo”...
Pois bem, Presidente Lula, mesmo sabendo que temos que perdoar nosso irmão setenta vezes sete, como nos ensinou o Mestre, é bom não abusar. Pois, assim, como adverte o poeta Vinicius de Morais: “Cuidado! O perdão também cansa de perdoar”...
Então, aproveite essa nova chance, para verdadeiramente fazer as mudanças que tanto desejamos. Que você faça as tão almejadas reformas política, no judiciário e no sistema tributário, etc, etc... Que você escolha melhor as suas companhias. Que você possa mostrar que ética e política podem viver lado a lado, sim. Que você enxergue melhor as coisas em sua volta. Que você abra bem os ouvidos, para ouvir os sussurros nos gabinetes ao seu lado... Que você fique menos deslumbrado pelo poder: com os pés no chão, como no segundo turno e não nos saltos-altos do primeiro mandato...
Francisco Edílson Leite Pinto Junior - Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN
Um comentário:
Bom dia, caro Carlos! Excelente o artigo do Dr.Edilson! Depois da "Era Lula", pouca coisa será pecado na política!
Tenha um bom domingo!
Sandra Raíssa Fernandes Escóssia
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