O PMDB pisou na bola
Que me perdoem os personagens, mas a construção dessa aliança PMDB-PFL transformou-se num desastre a partir do momento em que os seus arquitetos, simplesmente, descartaram o seu principal alicerce de sustentação: o PSDB.
Custa acreditar que políticos do quilate de um Garibaldi Filho, de um José Agripino, de um Geraldo Melo, de um Henrique Eduardo, de um Carlos Augusto Rosado, de um Carlos Viveiros, tenham deixado que isso acontecesse.Principalmente, é claro, Garibaldi. Principalmente levando em conta o respeito que ele construiu perante a opinião pública do Rio Grande do Norte, como líder político.
Fico imaginando o quanto lhe custou, não apenas chegar a uma decisão, no mínimo incompreensível para um amigo; mas também que o obrigou a abandonar o discurso que alicerçava o projeto político do seu grupo: "Nós não traímos ninguém".
A reafirmação desse compromisso, aliás, foi a tônica do discurso com que Henrique Eduardo Alves recebeu, das mãos do saudoso Aluízio Alves, o bastão de comando do PMDB estadual. Eu me lembro como se fosse hoje. Foi em novembro do ano passado. Dia 5 de novembro. Uma solenidade altamente prestigiada pela maioria dos partidos. Tinha gente do PV, PSDB, do PMN, do PAN, do PTC, do PP, do PFL. Acho que até o PT compareceu.
Quem foi representando o senador José Agripino, foi o vereador Salatiel de Souza.Com brilhantismo, Henrique fez um retrospecto da história do PMDB, destacou o papel de Aluízio Alves na construção do partido e, chegando aos dias atuais, enfatizou o fato do PMDB ser um partido de compromisso.
Propôs a formação de uma frente de oposição e pediu a Salatiel que fizesse chegar ao senador José Agripino que o PMDB estava aberto ao diálogo com seu tradicional adversário, sem mágoa e sem ressentimentos.O que o PFL ganharia com isso? Nada de conchavos.
Seria formado um pacto em favor do Rio Grande do Norte e a definição de nomes para eleições futuras deveria ser buscada num clima de diálogo, entendimento, levando em conta o interesse público e, é claro, o potencial eleitoral dos interessados.
Naquela ocasião, o PMDB tinha dois compromissos - Garibaldi Filho como candidato a governador; e Geraldo Melo, candidato a senador. Havia para o PFL a vaga de vice, com a garantia, respaldada pela história, de que tal compromisso seria cumprido, pois o que sedimentava o conceito peemedebista junto aos seus aliados era a certeza de que - como disse Henrique - "aqui ninguém corre o risco de levar uma facada pelas costas".
E, ali mesmo, Henrique afirmou que, eleito novamente governador, Garibaldi não disputaria a reeleição em 2010, abrindo a perspectiva de um nome do PFL está no comando do Estado por ocasião do próximo pleito, inclusive podendo se candidatar à reeleição.O tempo passou, o cenário foi mudando e, um dia, o mundo político estadual foi surpreendido por uma enfática declaração do senador Garibaldi Filho, em pleno período da campanha das prévias do PMDB:
- Apoiaria o candidato a presidente da República que tivesse o senador José Agripino como companheiro e chapa e, se o senador do PFL, viesse apoiar sua campanha pra governador, poderia indicar não apenas o candidato a vice-governador, mas também, o candidato a senador.
Claro, hoje é muito fácil dizer que Garibaldi errou em assumir de público este novo compromisso, descartando um outro (o com Geraldo) assumido alguns anos antes.Mas, na época, numa entrevista que me concedeu na TV União, o prefeito Agnelo Alves já alertara para a dimensão daquele compromisso: "Ninguém tem como oferecer um lance mais alto do que este".
Porque, na realidade, Garibaldi foi mais além: estaria disposto, inclusive, a abrir mão da própria candidatura e apoiar a de Agripino, caso o presidente do PFL não emplacasse (como não emplacou) sua candidatura à vice-presidência.
Eu imagino que Garibaldi trabalhava com duas certezas: 1) A de que José Agripino era, de fato, o melhor nome para ser o vice do tucano Geraldo Alckmin e seria, de fato o escolhido; 2) Presente na chapa presidencial, Agripino seria convencido pelo comando tucano a oferecer sua contrapartida no âmbito do Estado, indicando o vice de Garibaldi e retribuindo o apoio do PSDB endossando a aspiração de Geraldo Melo de voltar ao Senado.
Nenhuma dessas "verdades" se concretizou e o que se viu, depois, é que não havia o - vá lá - "plano B" para enfrentar as conseqüências do novo cenário que surgiu.O resultado: prevaleceu a tese dos impacientes que empurraram Garibaldi para a decisão mais "pragmática". Segurar o apoio de Agripino; impedir que ele se compusesse com a governadora. De qualquer maneira.
Nessas horas, a cabeça do político com responsabilidade de liderar e de comandar fica um verdadeiro tumulto. O que não falta é palpite, sugestão, batida na mesa. E, no tumulto, Garibaldi pode ter ficado sem condições de ouvir as vozes mais sensatas.Uma dessas vozes, a de um interlocutor, mais do que isso, um confidente do senador, chegou a lhe dizer, ao ouvir um balanço das dificuldades por conta da falta de diálogo entre Geraldo Melo e José Agripino: "Você não precisa disso. Chame os dois e dê um ultimatum: só serei candidato com a participação consensual de vocês dois. Vão conversar e, quando se acertarem, me chamem".
A bem da verdade, não sei se houve tempo desse confidente de Garibaldi lhe transmitir essa opinião pessoalmente. Mas, a encaminhou ao jornalista José Wilde de Oliveira Cabral e este a levou ao seu destinatário.
Sem dúvida nenhuma, atrapalhou bastante a vida de Garibaldi o fato de que, pelo menos, desde a opção do PFL pela candidatura vice-presidencial do senador José Jorge, Agripino e Geraldo Melo fugiam um do outro como o diabo foge da cruz. E, em política, quando isso acontece, o resultado não pode ser bom.Até onde sei, porém, não se pode creditar à ex-prefeita de Mossoró, Rosalba Ciarlini, nenhuma atitude de intransigência no esforço que desenvolve, legitimamente, para ampliar o seu espaço político.
Por mais de uma vez me disse: "Ninguém é candidato a vice. A escolha do candidato a vice deve ser uma prerrogativa do candidato a governador. Por isso é que disputo, no meu partido, a indicação para o Senado".Ou seja: ela nunca negou que, se convocada, poderia aceitar compor a chapa como aspirante à vice-governadoria".
Agora, apesar das pesquisas lhe favorecerem, é inquestionável que Garibaldi, intimamente, deve estar passando por momentos extremamente desagradáveis e incertos. Até porque, depois de tudo o que fez, a não ser a voz da própria Rosalba, nenhum outro nome de expressão, no PFL, externou satisfação e empolgação com o cenário que foi construído.
Por enquanto, como diz o povo, antes pelo contrário. Mas, vamos esperar pra ver o que é que o povo diz. Ele, o eleitorado, é que vai ser o senhor inquestionável do que há de vir.
* Paulo Tarcísio Cavalcanti (www.jornalmetropolitano.com.br)
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