Cama (ra) de gatos
A Câmara Municipal de Mossoró vive um período que deveria ser apagado dos seus anais. A atual legislatura, com raríssimas exceções, se caracteriza como a mais inepta das últimas décadas, além de incapaz de cumprir qualquer uma de suas prerrogativas mais importantes ou deveres constitucionais basilares.
A resposta à letargia e desrespeito ao cidadão tem sido dada pelo povo ao seu modo. É pífio o comparecimento de populares às sessões que foram transferidas do espaço vespertino para o matutino. Em sua maioria, os presentes são assessores dos vereadores ou alguns pedintes, para ser mais claro. Até mesmo repórteres que cobrem as atividades legislativas raramente dão o ar de sua graça. Não perdem nada com isso. Não há muito a ser mostrado.
A mediocridade quase generalizada insulta o cidadão, que paga caro para manter um poder alheio às demandas sociais. Reduzido de 21 para 13 assentos por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2004, o legislativo recuou em número de vereadores, mas continua perdulário e sob um custo estelar. São mais de 650 mil/mês sorvidos do bolso do contribuinte, num escambo desigual: o povo nada recebe em troca.
Com folha de pessoal abarrotada de parentes dos vereadores, a Câmara de Mossoró faz de conta que é um poder. Não passa de sala contígua do Palácio da Resistência, sede da prefeitura. “A gente não precisa discutir nada não. Quem tem maioria é assim”, chegou a arbitrar há pouco tempo o vereador governista Chico da Prefeitura (PFL), com a naturalidade de um paquiderme.
Com 11 dos 13 vereadores à sombra de empregos e outros favores do governo municipal, inexiste debate de idéias, discussão de propostas ou projetos sérios. A maior prova desse desatino político é a votação do Projeto de Orçamento Geral do Município ou do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Eles são aprovados na íntegra, do jeitinho que sai do forno da prefeitura. Sequer uma emenda é aposta.
O pouco caso do papel parlamentar é tão grande, que já ocorreu de um projeto como a LDO ser apenas reprodução xerográfica de exercício anterior. E assim mesmo foi aprovado, com todas as imperfeições legais.
Nem no período do regime militar, do bipartidarismo consentido e da onipresença do líder Vingt Rosado, se viu tanta pasmaceira e servilismo. A maioria dos vereadores acha que o fato de ser governista, o obriga a ser sabujo. Abdica-se do livre arbítrio, o elementar num homem livre. Nega-se o compromisso com a sociedade e negocia-se aviltantemente a consciência pessoal, em nome de benefícios particulares - muitos deles inconfessáveis.
A subtração de oito vagas na Câmara, feita pelo TSE, facilitou a cooptação do poder pelo executivo e deixou a cidade a descoberto. A chamada casa do povo insulta a sua própria história. Nega um passado onde víamos debates, duelos verbais de nível e produção parlamentar expressiva.
Quanta saudade de nomes como Marlene Otto, Expedito Bolão, Tomaz Neto, Wellington Barreto, Joalba Vale, Pedro Fernandes, Telma Gurgel, Luiz Carlos Martins, Chico Borges, Lupércio Luiz, Sérgio Coelho e tantos outros que pensavam. Mesmo muitos deles sendo situacionista, não faziam disso sinônimo de bufão do reino encantado de Mossoró.
O legislativo local é a prova cabal de que o modelo de democracia representativa que possuímos está esgotado. Fechado, não faria falta. Aberto e como funciona, apenas é sócio minoritário da prefeitura, num negócio que mais parece uma “cama de gato” contra o povo. Triste Mossoró. Adiante saberemos melhor o quanto pagamos caro por vivermos numa “era mediocrática”.
PRIMEIRA PÁGINA
DE FININHO – Ex-aliada histórica do rosadismo, a vereadora Izabel Montenegro (sem partido) tratou de sair de fininho do plenário da Câmara Municipal de Mossoró ontem. O motivo foi a proposição do vereador Benjamim Machado (PTB) de moção de solidariedade aos ex-deputados Laíre Rosado (PSB) e Múcio Sá. A decisão de Izabel, da mesma forma que foi tomada pelo vereador Chico da Prefeitura (PFL), não impediu que a matéria fosse aprovada – apesar de não existir quorum. Existiam apenas cinco vereadores em plenário. Um absurdo!
ADESIVOS – A imaginação fértil de marqueteiros e apaixonados pela política – ou pelo que eles podem oferecer – está produzindo uma enormidade de frases-slogans nessa pré-campanha. Em Assu, muitos carros circulam com a mensagem “Amo Lula”. Depois de sofrer delicado problema de saúde, o pré-candidato a deputado estadual Lavoisier Maia (PSB) é saudado com a frase “Lavô tá novo”. Um duplo sentido bem alegre para o septuagenário ex-governador e ex-senador.
ADESIVOS II – Em Mossoró, o médico Leonardo da Vinci (PFL) foi saudado por alguns teaser’s (chamadas de propaganda) de péssimo gosto. Do duvidoso “esse é o cara” a um “médico da gente”, passando pelo deputado “tremendão”. Mas o que mais encontramos mesmo é aquele que apenas associa o nome do pré-candidato ao ano da eleição. Exemplos: “Wilma 2006”, “Rosalba 2006”. Enquanto a criatividade não dá uma luz, esse é o caminho mais seguro para se escapar do ridículo ou de trapalhada em desfavor do postulante a cargo eletivo.
MAIS GENTE – A campanha à parte que o ex-deputado Carlos Augusto Rosado (PFL) organiza para tornar sua mulher, a ex-prefeita Rosalba Ciarlini (PFL) a primeira senadora do RN, está sendo reforçada por mais gente da área jornalística. A cobertura da programação pessoal de Rosalba conta com uma crescente estrutura profissional, que vai da realização sistemática de pesquisas qualitativas à comunicação.
SANGUESSUGAS – As pessoas que têm convivido nos últimos dias com o secretário da Agricultura do Estado, ex-deputado federal Laíre Rosado (PSB), são consenso numa análise: ele sentiu sobremodo o impacto do envolvimento do seu nome no escândalo denominado de a “Máfia dos Sanguessugas”. Não é para menos. O caso é delicado, estando no campo da denúncia oficial pelo Ministério Público, portanto não sendo processo transitado em julgado, ou seja, sem julgamento definitivo.
SANGUESSUGAS II - O ex-parlamentar é acusado de compor esquema à época em que era deputado, para facilitar emendas para compra de ambulâncias superfaturadas. Em nível de RN, Laíre e o também mossoroense e ex-deputado federal Múcio Sá estão sob denúncia. A propósito, Múcio igualmente secretário do governo Wilma, pasta Institucional Especial.
GERAIS
- Se o Baraúnas ratificar nos dois jogos contra o Potiguar o título ganho em campo anteriormente, este ano, de Campeão Estadual-2006, já tem uma marca a badalar ironizando o adversário: seus torcedores vão comemorar o título de “bicampeão”.
- Nas bancas de revistas da cidade, uma sensação em vendas é pacote de figurinhas com fotos de jogadores da Copa do Mundo. Remete-me ao tempo da aurora da minha vida, quando existia uma febre por figurinhas. Quantas saudades! Eu era muito, muito feliz, e não sabia. Sequer desconfiava.
- A Copa do Mundo tem oferecido ao brasileiro determinados nomes de atletas, que beiram o palavrão. São os casos do goleiro “Porras” da Costa Rica e “Gallas” da França. Se não tivermos cuidado no conversê sobre futebol, o menos atento pode imaginar diálogo de baixo calão.
- Hoje à noite é a estréia no adro da capela de São Vicente, no centro de Mossoró, do espetáculo “Chuva de Balas no País de Mossoró”. A peça ao ar livre é resultado de um belo texto do professor e escritor Tarcísio Gurgel, com direção do competente João Marcelino.
- O reitor da Uern e homem de comunicação, doutor Milton Marques, apresenta hoje às 19h o Programa Mossoró de Todos os Tempos pela TCM, TV Cabo Mossoró, canal 10. Ele entrevista o alfaiate José Caldas, que aos 83 anos tem uma memória privilegiadíssima. O programa é reprisado na sexta às 20h e no domingo às 19h.
SÓ PRA CONTRARIAR
A Câmara Municipal de Mossoró vive um período que deveria ser apagado dos seus anais. A atual legislatura, com raríssimas exceções, se caracteriza como a mais inepta das últimas décadas, além de incapaz de cumprir qualquer uma de suas prerrogativas mais importantes ou deveres constitucionais basilares.
A resposta à letargia e desrespeito ao cidadão tem sido dada pelo povo ao seu modo. É pífio o comparecimento de populares às sessões que foram transferidas do espaço vespertino para o matutino. Em sua maioria, os presentes são assessores dos vereadores ou alguns pedintes, para ser mais claro. Até mesmo repórteres que cobrem as atividades legislativas raramente dão o ar de sua graça. Não perdem nada com isso. Não há muito a ser mostrado.
A mediocridade quase generalizada insulta o cidadão, que paga caro para manter um poder alheio às demandas sociais. Reduzido de 21 para 13 assentos por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2004, o legislativo recuou em número de vereadores, mas continua perdulário e sob um custo estelar. São mais de 650 mil/mês sorvidos do bolso do contribuinte, num escambo desigual: o povo nada recebe em troca.
Com folha de pessoal abarrotada de parentes dos vereadores, a Câmara de Mossoró faz de conta que é um poder. Não passa de sala contígua do Palácio da Resistência, sede da prefeitura. “A gente não precisa discutir nada não. Quem tem maioria é assim”, chegou a arbitrar há pouco tempo o vereador governista Chico da Prefeitura (PFL), com a naturalidade de um paquiderme.
Com 11 dos 13 vereadores à sombra de empregos e outros favores do governo municipal, inexiste debate de idéias, discussão de propostas ou projetos sérios. A maior prova desse desatino político é a votação do Projeto de Orçamento Geral do Município ou do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Eles são aprovados na íntegra, do jeitinho que sai do forno da prefeitura. Sequer uma emenda é aposta.
O pouco caso do papel parlamentar é tão grande, que já ocorreu de um projeto como a LDO ser apenas reprodução xerográfica de exercício anterior. E assim mesmo foi aprovado, com todas as imperfeições legais.
Nem no período do regime militar, do bipartidarismo consentido e da onipresença do líder Vingt Rosado, se viu tanta pasmaceira e servilismo. A maioria dos vereadores acha que o fato de ser governista, o obriga a ser sabujo. Abdica-se do livre arbítrio, o elementar num homem livre. Nega-se o compromisso com a sociedade e negocia-se aviltantemente a consciência pessoal, em nome de benefícios particulares - muitos deles inconfessáveis.
A subtração de oito vagas na Câmara, feita pelo TSE, facilitou a cooptação do poder pelo executivo e deixou a cidade a descoberto. A chamada casa do povo insulta a sua própria história. Nega um passado onde víamos debates, duelos verbais de nível e produção parlamentar expressiva.
Quanta saudade de nomes como Marlene Otto, Expedito Bolão, Tomaz Neto, Wellington Barreto, Joalba Vale, Pedro Fernandes, Telma Gurgel, Luiz Carlos Martins, Chico Borges, Lupércio Luiz, Sérgio Coelho e tantos outros que pensavam. Mesmo muitos deles sendo situacionista, não faziam disso sinônimo de bufão do reino encantado de Mossoró.
O legislativo local é a prova cabal de que o modelo de democracia representativa que possuímos está esgotado. Fechado, não faria falta. Aberto e como funciona, apenas é sócio minoritário da prefeitura, num negócio que mais parece uma “cama de gato” contra o povo. Triste Mossoró. Adiante saberemos melhor o quanto pagamos caro por vivermos numa “era mediocrática”.
PRIMEIRA PÁGINA
DE FININHO – Ex-aliada histórica do rosadismo, a vereadora Izabel Montenegro (sem partido) tratou de sair de fininho do plenário da Câmara Municipal de Mossoró ontem. O motivo foi a proposição do vereador Benjamim Machado (PTB) de moção de solidariedade aos ex-deputados Laíre Rosado (PSB) e Múcio Sá. A decisão de Izabel, da mesma forma que foi tomada pelo vereador Chico da Prefeitura (PFL), não impediu que a matéria fosse aprovada – apesar de não existir quorum. Existiam apenas cinco vereadores em plenário. Um absurdo!
ADESIVOS – A imaginação fértil de marqueteiros e apaixonados pela política – ou pelo que eles podem oferecer – está produzindo uma enormidade de frases-slogans nessa pré-campanha. Em Assu, muitos carros circulam com a mensagem “Amo Lula”. Depois de sofrer delicado problema de saúde, o pré-candidato a deputado estadual Lavoisier Maia (PSB) é saudado com a frase “Lavô tá novo”. Um duplo sentido bem alegre para o septuagenário ex-governador e ex-senador.
ADESIVOS II – Em Mossoró, o médico Leonardo da Vinci (PFL) foi saudado por alguns teaser’s (chamadas de propaganda) de péssimo gosto. Do duvidoso “esse é o cara” a um “médico da gente”, passando pelo deputado “tremendão”. Mas o que mais encontramos mesmo é aquele que apenas associa o nome do pré-candidato ao ano da eleição. Exemplos: “Wilma 2006”, “Rosalba 2006”. Enquanto a criatividade não dá uma luz, esse é o caminho mais seguro para se escapar do ridículo ou de trapalhada em desfavor do postulante a cargo eletivo.
MAIS GENTE – A campanha à parte que o ex-deputado Carlos Augusto Rosado (PFL) organiza para tornar sua mulher, a ex-prefeita Rosalba Ciarlini (PFL) a primeira senadora do RN, está sendo reforçada por mais gente da área jornalística. A cobertura da programação pessoal de Rosalba conta com uma crescente estrutura profissional, que vai da realização sistemática de pesquisas qualitativas à comunicação.
SANGUESSUGAS – As pessoas que têm convivido nos últimos dias com o secretário da Agricultura do Estado, ex-deputado federal Laíre Rosado (PSB), são consenso numa análise: ele sentiu sobremodo o impacto do envolvimento do seu nome no escândalo denominado de a “Máfia dos Sanguessugas”. Não é para menos. O caso é delicado, estando no campo da denúncia oficial pelo Ministério Público, portanto não sendo processo transitado em julgado, ou seja, sem julgamento definitivo.
SANGUESSUGAS II - O ex-parlamentar é acusado de compor esquema à época em que era deputado, para facilitar emendas para compra de ambulâncias superfaturadas. Em nível de RN, Laíre e o também mossoroense e ex-deputado federal Múcio Sá estão sob denúncia. A propósito, Múcio igualmente secretário do governo Wilma, pasta Institucional Especial.
GERAIS
- Se o Baraúnas ratificar nos dois jogos contra o Potiguar o título ganho em campo anteriormente, este ano, de Campeão Estadual-2006, já tem uma marca a badalar ironizando o adversário: seus torcedores vão comemorar o título de “bicampeão”.
- Nas bancas de revistas da cidade, uma sensação em vendas é pacote de figurinhas com fotos de jogadores da Copa do Mundo. Remete-me ao tempo da aurora da minha vida, quando existia uma febre por figurinhas. Quantas saudades! Eu era muito, muito feliz, e não sabia. Sequer desconfiava.
- A Copa do Mundo tem oferecido ao brasileiro determinados nomes de atletas, que beiram o palavrão. São os casos do goleiro “Porras” da Costa Rica e “Gallas” da França. Se não tivermos cuidado no conversê sobre futebol, o menos atento pode imaginar diálogo de baixo calão.
- Hoje à noite é a estréia no adro da capela de São Vicente, no centro de Mossoró, do espetáculo “Chuva de Balas no País de Mossoró”. A peça ao ar livre é resultado de um belo texto do professor e escritor Tarcísio Gurgel, com direção do competente João Marcelino.
- O reitor da Uern e homem de comunicação, doutor Milton Marques, apresenta hoje às 19h o Programa Mossoró de Todos os Tempos pela TCM, TV Cabo Mossoró, canal 10. Ele entrevista o alfaiate José Caldas, que aos 83 anos tem uma memória privilegiadíssima. O programa é reprisado na sexta às 20h e no domingo às 19h.
SÓ PRA CONTRARIAR
Com tantos filhos de políticos sendo puxados à vida pública, em meio a arrumadinhos, a gente constata: a elite do poder no Estado está inaugurando a "filhocracia".
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